quinta-feira, fevereiro 10, 2005

De Pai para Filho


Meu filho...


Vive intensamente a tua infância
Nela escolhes o teu caminho,
Longe da vil e suja ganância,
Livre e leve como um passarinho.

Das fases da vida é a mais curta,
Mas contudo das mais importantes,
Aprendendo coisas interessantes,
Disputando “luta” após “luta”.

Nela constróis uma personalidade.
É um mundo sem preocupações
Habitado por ti e por muitos milhões,
Pequenos seres na tenra idade.

É o espaço das brincadeiras,
Livre de guerras e confusões,
Cheio de amor e emoções
Em planícies soalheiras.

Só o teu corpo manda em ti…
Não te preocupes,
Ele dirá quando forem horas de dormir, de comer, de brincar, de chorar...
Não te preocupes,
Ele saberá quando deves andar, falar, sorrir, gritar.

Eu, serei teu conselheiro, amigo, companheiro.
Vive e aproveita cada dia ao máximo.
Aceita o amor e carinho do teu pai,
Pois disso ele tem muito para te dar.

Talvez não te consiga dar todo o que queiras,
Talvez a vida não seja tão fácil como parece,
Talvez o tempo seja pouco, e muito o cansaço...
Talvez … talvez…

Mas tu mereces tudo, até a minha própria vida!
Pois em ti penso quando estou longe.
És tu que eu levo no meu coração, sempre.
Desculpa se não entendo o que queres,
Desculpa se ás vezes pagas pela minha má disposição,
Desculpa se por vezes for egoista...

Nunca foi minha intenção magoar-te.
Nunca foi minha intenção gritar-te.
Sempre quis o melhor para ti,
E farei os impossíveis para que isso aconteça,
Pois agora sei, meu filho,
Que tu és a razão da minha existência, …és tudo,
E és meu…
…FILHO!

F.V.1999

quinta-feira, fevereiro 03, 2005

DEMITO-ME!

Estou cansado...

...de dias cheios de computadores, de carradas de papéis, patrões pacóvios, notícias deprimentes e sensacionalistas, contas para pagar, trânsito e confusão, doenças e constante necessidade de atribuir um valor monetário a tudo o que existe - Materialismo!
...de ter que inventar mais maneiras de esticar o dinheiro até ao fim do mês.
...de falsidade, de inveja e principalmente de hipocrisia!
...de ser obrigado a dizer adeus a pessoas queridas e, com elas, a uma parte da minha vida...

Queria aqui apresentar oficialmente o meu pedido de demissão da categoria de adulto.

Decidi:
-Voltar a ter os pensamentos de uma criança de oito anos – no máximo!
-Acreditar que o mundo é justo, e que todas as pessoas são boas e honestas.
-Crer que tudo é possível.
-Quero que as complexidades da vida passem ao lado, e ficar outra vez encantado com as pequenas maravilhas do nosso enorme cenário.
-Quero outra vez uma vida simples e sem responsabilidades.
-Quero voltar a ter certeza de que Deus está no céu e que, por isso, tudo está no seu devido lugar.
-Quero ir ás farturas do Senhor de Matosinhos ou ao jardim zoológico do Palácio de Cristal e nem sequer saber que é muito melhor que McDonald’s ou Shoppings.
-Quero viajar pelos oceanos num barquinho de papel que navega numa poça deixada pela chuva.
-Quero atirar pedrinhas para a água e ter tempo para vêr as ondas que se formam.
-Quero achar que as moedas de chocolate são melhores do que as verdadeiras porque podemos comê-las e ficar com os dentes castanhos.
-Quero poder passar as tardes de verão à sombra de uma árvore, a construir castelos no ar e partilhá-los com os meus amigos e irmãos.
-Quero voltar a achar que chicletes e gelados são as melhores coisas da vida!
-Quero que as maiores competições em que eu entre sejam as "escondidinhas", "sameirinha",etc, etc, etc.
-Quero voltar ao tempo em que tudo o que eu sabia era o nome das cores, a tabuada, as músicas de Natal, os "livros dos cinco" e a "Ave Maria", e não me incomodava nada porque não tinha a menor ideia de quantas coisas ainda não sabia...
-Quero voltar ao tempo em que se é feliz, simplesmente porque se vive na bendita ignorância da existência de coisas que nos podem preocupar e aborrecer.
-Quero acreditar no poder dos sorrisos, dos abraços, dos agrados, das palavras gentis, da verdade, da justiça, da paz, dos sonhos, da imaginação, dos filmes cor-de-rosa e na areia da praia, onde muitas vezes me perdia quando olhava o “fim” do mar.
-Quero estar completamente convencido de que tudo isto vale muito mais do que o dinheiro.
-Quero...
-...

Quero é parar de sonhar e recordar, porque realmente tenho o contrário disto tudo...